13 de janeiro de 2009

Das Esperanças

A eleição de Barack Obama, assim como com a performance de Gabeira no Rio de Janeiro e também com a crise econômica mundial desencadeada pela economia americana são sinais de esperança ? Leia o texto da psicanalista Návia T. Pattussi Bedin, e dê sua opinião.


Enfim que fiquei profundamente emocionada com a eleição de Barack Obama, assim como com a performance de Gabeira no Rio de Janeiro e também com a crise econômica mundial desencadeada pela economia americana. Cito por ora apenas esses acontecimentos para dizer das minhas esperanças de que temos oportunidades de construir, de reler a nossa própria história quantas vezes desejarmos, de reorganizarmos uma série de funcionamentos de toda a ordem. É claro que essa possibilidade só ocorre quando conseguimos reconhecer a situação, os problemas envolvidos e a partir daí tomar atitudes. Não fugindo à obviedade: nunca conseguimos mudar nada se não houver uma insuportabilidade em relação ao que vivemos e uma disposição de enfrentamento e não de fuga das dores.

Viver efetivamente a sensação de que nada é definitivo também pode ser um bálsamo apesar do pavor e da apreensão que sempre gera o que é da ordem do inusitado e da novidade. A lição que tiro desses episódios é que as perdas, apesar das dores que elas trazem consigo, em muitas circunstâncias podem ser molas que alavancam novos movimentos e faróis que localizam novas forças. Algumas talvez adormecidas e outras tantas ainda não reconhecidas.

Essa possibilidade que temos, enquanto humanos, de subverter a fixidez do que é da ordem da natureza, e rearranjá-la do jeito que nos aprouver, pelo menos na imaginação, é o germe de tudo o que é possível construirmos a partir dos nossos desejos.

Alguma coisa está mudando, apesar do mar de lama que nos envolve e dos problemas de toda a ordem que fazem parte do nosso dia a dia. A história traz consigo movimentos por vezes imperceptíveis. Quarenta e seis anos após Martin Luther King preconizar a igualdade racial elege-se um negro como presidente dos Estados Unidos, um dos países mais preconceituosos do mundo. Fernando Gabeira, usando como bandeira de sua campanha as posturas éticas que tomou no Congresso Nacional e dizendo aos quatro ventos que quem o ajudasse na campanha não teria cargo garantido em função disso, subverte a lógica do perfil do político corrupto, individualista e descompromissado com as causas coletivas, ao quase eleger-se prefeito do Rio de Janeiro.

A falência do mercado financeiro nos dá um grande recado: repensem o consumismo desenfreado, a realização pessoal unicamente através da posse de objetos, o livre mercado, o capitalismo, o socialismo, as economias supostamente fortes e as emergentes, o papel do Estado, o individualismo exacerbado. O que tem valor afinal? Ou melhor, o que ainda tem valor? Até onde vai a nossa liberdade de ação?

O que me chama a atenção é que o resultado do que vivemos hoje, ou do que acontece como surpresa no presente, é sempre algo que vêm sendo escrito de uma forma subliminar, por vezes imperceptível no passado, mas que acaba ordenando e determinando os fatos. Esse outro mundo, que vai além das percepções conscientes, e que subjaz aos nossos sentimentos e realidades teima em nos surpreender, posto que nos portamos como autômatos, alienados em relação ao que somos, ao que nos envolve e que sem nos darmos conta ajudamos a construir.


Návia T. Pattussi Bedin
Psicanalista
naviat@terra.com.br
www.movimentopsicanalitico.com.br
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2 comentários:

  1. o planeta terra vive de esperança desde de o inicio da civilizaçao.

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  2. Das crises sempre nascem novas ideias e novas oportunidades, é preciso aprender com elas e ter esperança sempre.

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