“A gripe não é suína”. Esse foi o refrão mais ouvido na tarde fria e cinzenta desta segunda-feira, em Seara, no oeste de Santa Catarina, onde se reuniram cerca de 3.000 produtores rurais em ato público para pedir a atenção da sociedade brasileira à maior e mais extensa crise que vive o setor nos últimos 20 anos.
“É mais que um ato, é um pedido de socorro”, resumiu o vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc), Enori Barbieri. O manifesto “Para a Suinocultura continuar, Seara Pára”, promovido pela Faesc, Prefeitura Municipal de Seara, Câmara Municipal de Vereadores, Núcleo Municipal e Regional de Criadores de Suínos de Seara, Sindicato de Produtores e Trabalhadores Rurais do município e Associação Catarinense de Criadores de Suínos, teve o apoio da Câmara de Dirigentes Lojistas e Associação Comercial e Industrial de Seara. Durante duas horas, lideranças classistas, econômicas e políticas se juntaram aos criadores de suínos para pedir apoio governamental para o setor.
Há dois problemas – preço e consumo –, explica Barbieri. A crise financeira internacional derrubou, inicialmente, o volume das exportações e, depois, os preços. Atualmente, o Brasil exporta um volume razoável de carne suína, mas o preço é 40% inferior ao praticado em 2007 e 2008. “Estamos pagando para consumirem nossa carne”, diz o presidente do Sindicato Rural de Seara, Waldemar Zanluchi. No mercado doméstico, o consumo caiu 75% em grandes praças, como São Paulo, em razão da indevida associação feita entre a carne suína e a gripe A, erroneamente chamada de “gripe suína” pelos meios de comunicação.
O tropeço inicial foi da Organização Mundial de Saúde (OMS) que, logo de início, em lugar de dar uma denominação territorial, como seria esperado (“gripe norte-americana”, por exemplo), denominou a patologia de “gripe suína”, o que levou a imprensa mundial a adotar esse nome. Mais adiante, quando a OMS corrigiu a nomenclatura para “gripe A” ou H1N1, não foi possível neutralizar o fenômeno comunicacional criado: a mídia gostou do nome inicial e dele não se afastou. Por isso, o ato de Seara encerrou com a distribuição de carne suína assada e pronta para o consumo, no horário do lanche escolar, para 500 alunos do Colégio Estadual Raimundo Corrêa, em Seara.
“Nós temos a melhor, a mais saudável e mais barata carne suína do mundo”, assinalou o presidente da cooperativa agropecuária Copérdia, com sede em Concórdia, Valdemar Bordignon. “Nós só sabemos trabalhar e produzir”, disse o criador Amilton Brusamarello, porque, “se houvesse outra opção, estaríamos fora”.
O presidente da Associação Catarinense de Criadores de Suínos, Volmir de Souza, assinala que todos os caminhos foram percorridos para abrir novos mercados, valorizar a carne suína e recuperar preços para o criador. Ele tem esperança que a Rússia - onde se encontra uma nova missão oficial brasileira negociando a troca de trigo e fertilizantes por carne – volte a comprar o produto catarinense.
As queixas de todos os atores da cadeia produtiva contra o governo são muitas: ele ignora o tamanho da crise e a importância da cadeia produtiva da suinocultura. Santa Catarina, o maior produtor nacional de carne suína, gera 660 mil toneladas de carne com o abate de 7 milhões de suínos por ano. Há 54 mil suinocultores em território barriga-verde que representam 25% da produção brasileira. O setor gera 65 mil empregos diretos e 140 mil indiretos. O Estado obtém mais de meio bilhão de dólares com exportações. No Brasil são 500 mil pessoas envolvidas em toda a cadeia: o país produz 3 milhões de toneladas, consumo 2,4 milhão por ano (200 mil toneladas por mês) e precisa exportar as outras 600 mil toneladas.
Criadores e lideranças querem para o agronegócio suinícola a mesma atenção que o governo deu à indústria automobilística. Mas, de acordo com a Faesc, no momento, a prioridade é prorrogação das dívidas, aprovação de créditos novos para manutenção da atividade, liberação dos estoques de milho da Conab, isenção de tributos na venda de leitões e material genético, além de uma política de preços mínimos para a carne suína.
Marcos A. Bedin
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