30 de julho de 2009

Não Podemos Mais Nos Entristecer?

Quero falar da banalização do uso de antidepressivos.

Por: Návia T. Pattussi/Psicanalista/naviat@terra.com.br

Parece que está se transformando em tabu, ficar triste. Não podemos mais nos entristecer? Não é mais possível suportar o mínimo de sofrimento? Acho preocupante essa idealização de que a vida tem que ser sempre boa, alegre e sem stress. Chegamos ao cúmulo de considerar que diante de perdas – que obviamente geram entristecimento na melhor das hipóteses - como a morte de alguém ou perda de um amor, trabalho ou algo do gênero, devemos com urgência providenciar algum remedinho para tomar, pois afinal não posso “entrar em depressão”.

Temos dois equívocos aqui: um é a banalização do termo e diagnóstico de depressão para qualquer tristeza, usado tanto por alguns profissionais mais desavisados quanto pelo público leigo. Outro é que na vida não pode haver conflito, sofrimento, como se fosse um dever estar sempre lépido e faceiro.

Quanto ao primeiro equívoco, do ponto de vista da psicanálise, o que se pode chamar de depressão é quando o sujeito perde a vontade de viver, encontra-se reiteradamente tomado por uma tristeza absoluta, perdendo a vontade de trabalhar, transar e relacionar-se, sem uma causa aparente. Além disso, entra numa espécie de paralisia, não tendo ânimo para fazer nada, além de poder apresentar componentes autodestrutivos como aumento exacerbado de peso ou perda de apetite juntamente com redução significativa de peso em pouco espaço de tempo. Nesses casos é necessário procurar ajuda como psicanálise ou psicoterapia, com acompanhamento de medicação quando necessário.

Quanto ao segundo equívoco, o dever de estar sempre sem tristeza ou sofrimento, em suma, sem sofrimento psíquico, choca-se de frente com o que constitui a especificidade do ser humano, que é ter uma subjetividade, coisa que os animais não têm. O conflito, o sofrimento psíquico é uma demonstração de que algo não vai bem com o sujeito e que, portanto, precisa ser revisto tal qual uma máquina que não funciona mais direito e que precisa de manutenção, revisão do que está acontecendo com ela para ser consertada. Quando tomamos medicação desnecessariamente, impedimos esse processo de entrada para dentro de si mesmo para se situar quando ao que está acontecendo. É como dar uma “tapeada” na máquina e colocar um calço, por exemplo, para ela não fazer mais barulho.

Trabalhar o sofrimento psíquico, suportando-o minimamente, é a única alternativa que temos para nos tornar melhores para nós próprios, descobrindo novas fronteiras, limites e potencialidades que temos dentro de nós, que nem sempre reconhecemos. Temos um mundo interno maravilhoso a ser acessado e isso sómente é possível através do sofrimento falado para alguém, pois é uma forma de organizar e reconhecer o desconhecido que faz parte desse sofrimento.

A possibilidade desse trabalho interno fica totalmente anulada quando o sujeito está totalmente “dopado e impedido de pensar. Nesses casos há um empobrecimento emocional significativo e para mim isso sim é miséria humana: seres autômatos, frágeis, impedidos de se entristecer e de também alegrar-se e usufruir dos deleites das descobertas de si mesmo.

Fonte: Marcos A. Bedin
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