Em torno de 335 a 323 a.C, o filósofo grego Aristóteles, na obra “Ética a Nicômaco”(Nicômaco era o nome do seu filho e do seu pai) versa sobre o que buscamos ao agir e coloca que, em última instância, ao agir, o homem busca o seu próprio Bem. Nada de novo para nós! Isso não nos surpreende por que a ética aristotélica é um dos pilares do que nós, da civilização ocidental, concebemos como certo ou errado. Ele filosofa sobre o que seria esse Bem Supremo e coloca “... tanto o vulgo como os homens de cultura superior dizem que esse bem supremo é a felicidade e consideram que o bem viver e o bem agir equivalem a ser feliz; porém, divergem a respeito do que seja a felicidade, e o vulgo não sustenta a mesma opinião dos sábios. A maioria das pessoas pensa que se trata de alguma coisa simples e óbvia, como o prazer, a riqueza ou as honras, embora também discordem entre si; e muitas vezes o mesmo homem a identifica com diferentes coisas, dependendo das circunstâncias: com a saúde quando está doente, e com a riqueza quando é pobre.” Em última instância, no decorrer da obra ele considera que a felicidade vai muito além de uma busca de prazer, embora isso também possa estar incluído no que é almejado. Mas felicidade para ele, acima de tudo, é o exercício da virtude. O que seria isso?
O que nos faz felizes? Uma mera busca pelo prazer? A emergência de quadros de dependências, ou consumo compulsivo de alimento, drogas, objetos, sexo, etc, em última instância buscam o Bem através de meras sensações corporais, ou potencialização dos sentidos.
Buscamos a felicidade, mas não conseguimos encontra-la, apesar de tantas buscas. Os caminhos são os mais diversos e nos embrenhamos neles tendo como referência o que é considerado certo ou errado, valorizado ou não, numa determinada sociedade.
Será que a possibilidade de realização total do que desejamos nos tornaria mais felizes, uma vez que só vislumbramos breves nuances de felicidade finita? Posso, por exemplo, me empanturrar de tanto comer, sem controle nenhum, assim como fazer sexo, usar drogas ou qualquer outro tipo de objeto e essa falta de interdição produz um certo alívio, até certo ponto, mas na melhor das hipóteses, geralmente vem carregada de culpa, que pelo nível de desconforto que produz pode redundar num processo de revisão do que o sujeito está buscando nesses objetos e dessa forma regular o seu agir. Na pior das hipóteses, o exercício desenfreado dos desejos ou das vontades, sem a possibilidade da culpa, pode levar à morte. É isso que acontece com uma criança se a deixarmos à mercê de seus impulsos quando ela quer imitar o Batman, por exemplo, e se atirar de uma janela, ou quando ela ingere somente os alimentos que deseja e não os saudáveis. Conosco, adultos, trata-se do mesmo processo, só que com o agravante de que somos responsáveis por nós mesmos e, portanto, se exageramos em alguma coisa temos que nos ver com as conseqüências deletérias disso.
Mas voltando a Aristóteles, naqueles anos idos ele já falava que a busca da felicidade vinha entremeada pela necessidade do meio-termo, do equilíbrio em relação ao exercício de nossos desejos, e isso ele chamava de virtude. O prazer então vem trançado com a lei, a interdição. A comida torna-se mais saborosa quando a degustamos com fome, assim como a bebida, quando ainda não estamos satisfeitos. Torna-se necessária a experiência da falta para acender o nosso desejo, pois não desejamos o que temos. Quando algo se prolonga para além de um determinado limite, sem freio, o que nos espera, em última instância, é a morte fulminante ou aquela cultivada diariamente através de hábitos deletérios.
Por vezes gostamos da natureza e das pessoas, mas não conseguimos sair de nós mesmos, sabemos que os exageros nos fazem mal, mas incorremos sempre nas mesmas situações, repetindo atos e situações que aparentemente vão contra nós próprios. Algo nos impede de sair de si mesmo. Li em algum lugar que muitas vezes é necessário “ARRANCAR-SE DE SI MESMO”, o que entendo como uma tomada de atitude, um ir para as vias de fato, procurando sair do universo platônico do puro pensamento ou da imaginação. Aristóteles já falava que a busca da felicidade inclui necessariamente a ação. Fazer acontecer, quando isso é possível! Mas essa forma, com certeza, não é o Bem para todos. Cada um consegue ir até onde a força de suas próprias pernas lhe possibilita. A dimensão do mundo ou a visão da vida é peculiar a cada um, sendo que a linha do horizonte pode ser acessível para alguns, para outros ela é concebida como inalcançável e para muitos outros ela não existe. O universo, nesses casos, se resume ao empobrecimento da percepção de coisas concretas, de sensações corporais e como humanos podemos ter acesso a dimensões maiores, embora essas também façam parte. É claro que tudo isso não depende somente de uma questão de vontade, mas até certo ponto somos responsáveis sim pela estrada que trilhamos e, portanto pelo que nos aguarda lá adiante, quando excetuamos os reveses e surpresas que a vida nos impõe.
Por: Návia T. Pattussi/Psicanalista/naviat@terra.com.br
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