Desde a década de 90 os produtores de cachaça da Bahia vêm lutando contra todos os obstáculos para melhorar a qualidade do produto e ampliar os mercados, inclusive no exterior.
Depois de muitos debates e reuniões com entidades, técnicos e órgãos do governo, a proposta de criação do primeiro Centro de Tecnologia e Negócios de Derivados de Cachaça da Bahia deverá ser concretizada até o final do ano, com sede em Vitória da Conquista.
A indicação da unidade tecnológica para oferecer suporte e assessoramento aos produtores, especialmente do sudoeste do Estado, ficou definida em reunião no dia 28 de julho, nas instalações do Instituto Federal de Educação Tecnológica de Conquista (antigo Cefet), entre produtores, representantes do Sebrae, do Instituto Euvaldo Lodi, , do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado.
Dentro do projeto ‘Produzir’, da Secretaria de Ciência e Tecnologia, os parceiros discutiram detalhes e procedimentos do programa para implantação do novo centro, que irá passar informações e conhecimentos necessários para que os produtores possam melhorar a qualidade da cachaça através da aprendizagem de novas técnicas de industrialização. A área comercial, visando a conquista de novos mercados, também será reforçada a partir da unidade que irá funcionar nas dependências do Infet/Conquista.
Trata-se de uma unidade de difusão de conhecimento de derivados de cachaça para todo Estado – explicou o representante da Secretaria de Ciência e Tecnologia, Djalma Barbosa. A localização do centro recaiu em Conquista pelo seu potencial econômico como rede de distribuição, contando ainda com a vantagem de ser um pólo de desenvolvimento da região sudoeste da Bahia, onde está concentrada grande parte da produção de cachaça do Estado, conforme análise dos técnicos e produtores.
O centro vai envolver todos os derivados da cana-de-açúcar, como a cachaça, rapadura e outros produtos, e contará com uma gestão executiva para coordenar os trabalhos de acompanhamento dos produtores no processo de industrialização e incremento de seus negócios. A idéia do centro é justamente criar condições para o crescimento do setor, que vem encontrando uma série de dificuldades, como a obtenção do selo de qualidade e a concorrência desleal por parte dos clandestinos.
De acordo com Júlio Chompanis, coordenador do Programa de Desenvolvimento das Atividades Empresariais do BID, o centro irá beneficiar inicialmente um universo de 300 produtores formais e informais do sudoeste baiano, abrangendo as regiões de Abaira (Jussiape, Piatã e Mucugê), Caetité e Caculé, Rio de Contas e Livramento de Nossa Senhora, Piripá, no Vale do Rio Gavião, e Itarantim.
Os últimos detalhes para a instalação do centro serão debatidos numa próxima reunião, mas ficou decido que a unidade começará a funcionar ainda neste ano. A aquisição de equipamentos para o projeto será feita pelos parceiros. O centro, que terá um executivo representante, será mantido pelas associações e cooperativas.
As maiores dificuldades, mesmo com todas as estratégias mercadológicas montadas pelos produtores e parceiros envolvidos com a fabricação de cachaça, têm sido a alta tributação do IPI (mais de 80%) e a pesada concorrência da indústria de outros destilados, como vinhos, uísques e fermentados. A própria Cachaça Industrial ou de Coluna paga menos impostos e apresenta preços mais baixos.
A saída para esses entraves recomendada por Paulo Mesquita, do Sebrae/Bahia, é a participação cada vez mais intensa em feiras e eventos, bem como a realização de ações promocionais e campanhas e divulgação na área de marketing que gerem novos negócios.
De acordo com levantamentos do setor, o volume de produção na Bahia é superior a cinco milhões de litros por ano (no Brasil, cerca de 1,3 bilhão de litros). Mas somente 350 a 500 mil litros no Estado da Bahia são de alambiques legalizados. A cachaça de qualidade enfrenta a competitividade do produto clandestino e o preconceito do público consumidor que prefere a vodka e o uísque.
Além do mercado interno, que absorve a maior parte da produção, outra saída é a conquista do comércio exterior. Nessa área a cachaça de Abaira já deu o primeiro passo com a venda, em março do ano passado, de um lote de 21 mil garrafas para a Itália. Há a expectativa de que mais 80 mil litros sejam embarcados para a Itália em 2009, como informou Nelson Luz Pereira, membro da Cooperativa dos Produtores Associados de Cana e seus Derivados na Microrregião de Abaira (Coopama) e chefe do escritório local da EBDA. Outra cachaça exportada pela Bahia é a Serra das Almas, de Rio de Contas.
Há quatro anos no mercado, a cachaça Engenho Bahia, do município de Ibirataia (extremo sul baiano), foi a primeira do Estado a receber a certificação do Inmetro. No Brasil apenas 28 marcas dispõem desse selo, nos estados do Rio Grande do Sul, Pernambuco, Minas Gerais, São Paulo e Bahia.
Tanto Josafar Rebouças, diretor de Vendas da Engenho Bahia, como o produtor Nelson Luz, de Abaira, afirmam que, apesar dos problemas, a venda da cachaça tem crescido nos mercados interno e externo, bem como tem melhorado sua participação em feiras e eventos, como na Feira Coopmac-Sebrae no início do ano, em Conquista.
Além da questão da tributação, Nelson se queixa da burocratização para a Cooperativa de Abaira conseguir o selo - “mesmo com o cumprimento de todas as normas trabalhistas e da legislação”. De acordo com Nelson Luz, a região de Abaira produz hoje cerca de 150 mil litros por ano de cachaça engarrafada, que é vendida pela Cooperativa a R$10,00 a unidade. A entidade vai produzir também açúcar mascavo e cristal, entre outros derivados.
Em Rio de Contas funcionam dois alambiques, a Tombad’ Ouro e Serra das Almas. Só a Tombad’Ouro produz 10 mil litros por ano, destinados ao mercado interno. Mas o produtor da unidade, Luis Carlos Farias, garante que o sonho é conquistar o mercado externo.
Outras marcas baianas que estão lutando pelo mercado são a Matinha (Piripá) e a Taquaril (Licínio de Almeida), da Cooperativa de Produtores de Derivados de Cana do Vale do Rio Gavião (Coodecana). Segundo o presidente da entidade, Jurandir Costa Viana, as duas fábricas produzem por ano cerca de 180 mil litros.
O Brasil possui cerca de 40 mil produtores de cachaça, sendo que mil fazem a chamada aguardente, ou a cachaça industrial. Os demais são produtores de cachaça de alambique, segundo a Federação Nacional de Produtores de Cachaça de Alambique.
A informalidade no País é estimada em mais de 90%. Na Bahia, o segundo Estado produtor depois de Minas Gerais, esse índice não é diferente. Existem no Estado cerca de sete mil pontos de produção, sendo 40 formais e apenas 15 de excelência. O imposto da cachaça no Brasil é definido pelo valor do produto no mercado. Uma boa cachaça chega ao ponto de venda pagando até 83% em tributos. O produtor que faz uma bebida com maior valor agregado acaba pagando três vezes mais de imposto que a indústria.
Fonte: Jeremias Macário/Agência Sebrae de Notícias
Visite www.letoooutroolhar.blogspot.com
ResponderExcluirArte, Cultura e Informação, tudo que rola em Cachoeira e São Félix.
Leto.