Por: Návia T. Pattussi/Psicanalista/naviat@terra.com.br
É fascinante pensar na nossa trajetória como seres humanos, as formas possíveis de “estar no mundo”, de existir. É contando com essa possibilidade de mudar a forma como nos colocamos diante das situações, pessoas e em relação à percepção de nós mesmos, que se torna possível tratamento psicanalítico ou uma maior maturidade viabilizada através de novas aprendizagens, decorrentes de vivências de sofrimento.
Podemos nos tornar pessoas melhores ou piores. Mas quais padrões determinam o que seja “melhor” ou “pior”? Suprimo neste caso o julgamento dos outros, pois para alguns uma pessoa “boa” é tida como aquela que “não tem boca para nada”, portanto, não se expõe. Para outros é aquela que possibilita uma relação de cumplicidade em relação a coisas inconfessáveis, ou não causa problemas. Enfim, os julgamentos serão sempre os mais diversos apesar de estarem sob a égide de uma ética comum.
Quando podemos dizer que somos pessoas melhores ou piores? Se conseguimos manter um certo distanciamento dos julgamentos dos outros, pois jamais conseguiremos agradar a todos, e nos voltar para dentro de nós mesmos, talvez existam algumas possibilidades de resposta. A pergunta então pode ser outra: quando somos “melhores” ou "piores” para nós mesmos, pois afinal será que existe um “juiz” ou tribunal mais rigoroso do aquele que podemos criar para legislar sobre nossas ações e sentimentos? É claro que isso na melhor das hipóteses, pois temos casos (psicopatas = delinqüentes) em que a sanção interior praticamente inexiste e o sujeito vive como se tudo lhe fosse permitido.
A ética psicanalítica traz uma contribuição muito valiosa neste sentido. Preconiza que o que dignifica o ser humano é “não ceder do próprio desejo”. Isso diz Lacan no livro “A Ética da Psicanálise”. O que significa? Podemos viver em função do desejo dos outros, como é a princípio a vivência infantil, que pode se perpetuar mesmo na fase adulta, sem conseguir desejar, isto é, “sacar” o que deseja. Na verdade o que nos “atrasa”, imobiliza e nos faz sofrer profundamente é a dificuldade de sair do jugo da percepção e vivência infantil.
É fato que o ser humano se constrói a partir de uma condição de desamparo absoluto, de tal forma que dependemos literalmente de alguém para sobreviver física e emocionalmente. Crescemos, sobrevivemos e parece que essa sensação de precisar do outro não some e por certo, nunca vai sumir, embora apareça de outras formas. O que pode mudar então, quando é possível, e assim o sujeito o deseja? A nossa forma de existir: a possibilidade de fazer valer o que recebemos e construímos e criamos.
Recebemos uma vida, um corpo, inteligência, sensibilidades! É mais dadivoso ainda quando isso tudo é acompanhado de saúde! A doença, o ser “pior” para si mesmo é quando não conseguimos usufruir o que somos, nos inibindo quanto as nossas potencialidades e continuando a esperar que alguém nos venha “salvar” e proteger em relação ao nosso desamparo. O ser “melhor” para si mesmo é quando conseguimos sentir como nosso o que é nosso: fazer valer a inteligência pondo-a para trabalhar, fazer valer a sensibilidade usufruindo de coisas que ela nos permite, como a boa música, o amor, a arte. Enfim, o mundo construído por nós é pródigo em coisas maravilhosas e edificantes apesar de construirmos também muita podridão, muito desamor e nos deixarmos tratar dessa forma.
Enfim, que inventar formas diferentes de existir, para mim, é conseguir ir ao encontro de si mesmo, fazer as pazes com as próprias raízes para abrir-se verdadeiramente para o mundo como autor de toda a grandiosidade que recebemos e inventamos. E isso não tem nada a ver com o tempo cronológico. Não vale essa história de que agora é muito tarde ou muito cedo!
Como fazer isso? Cada um procurando os caminhos nos quais acredita, mas por certo não é algo que depende somente de nossa boa vontade ou racionalidade, por que se assim fosse as palavras que estão escritas aqui ou em muitos livros seriam suficientes para desencadear esse processo.
Fonte: Marcos A. Bedin
MB Comunicação
Assessoria de Imprensa
(49) 3323-4244, (49) 9967-4244
mb@mbcomunicacao.com.br
Muito bom este texto com um teor muito reflexivo nos faz pensar sobre nos mesmos.
ResponderExcluirVamos sempre nos debater sobre a situação, afinal o que forma o carater de um homem. O meio em que vive, o meio em que nasce ou a genética influencia em tudo isto?
ResponderExcluirMuito bom o texto reflexivo, parabéns amado pela esclcolha.
ResponderExcluirA paz