5 de julho de 2009

É preciso defender a Constituição!

As concessões de Getúlio Vargas não parecem confiáveis a ponto de acalmar os ânimos em São Paulo.

Alega-se que o ditador só faz retardar a reconstitucionalização do país. Pior ainda é a repercussão da notícia de uma visita a São Paulo de Oswaldo Aranha, ministro da Fazenda. Teme-se que ele venha para impor um secretariado tenentista ao interventor Pedro de Toledo. Como consequência, a 22 de maio de 1932, dia da chegada de Oswaldo Aranha, enorme massa humana sai às ruas da capital paulista para expressar seu protesto.

No dia seguinte, 23 de maio, o movimento cresce, com a adesão da Associação Comercial, que fecha as portas das casas de negócios. Pelo centro da cidade multidões empunham bandeiras de São Paulo e do Brasil, vagueando desencontradamente, gritando hurras cívicos. Oradores se sucedem: “Os paulistas não podem permitir a suprema afronta…”

Na noite deste dia, a multidão que tomara conta das ruas parecia crescer com o passar das horas. A agitação era particularmente intensa na Praça da República, quando alguém lançou a idéia de tomar de assalto a sede da Legião Revolucionária, entidade tenentista transformada no Partido Popular Progressista, dirigido pelo general Miguel Costa.cartarevol1

Imediatamente a grande massa convergiu para o prédio, fazendo pressão contra suas portas. Os legionários, porém, estavam alerta. Armados, receberam os manifestantes à bala. Em correria e pânico a multidão se dispersa, procurando refúgio. Mortalmente feridos, quatro corpos jaziam sobre a calçada. Eram os jovens Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo.

Das iniciais de seus nomes surgiria o MMDC, entidade que teve papel decisivo na organização da guerra civil. Esses quatros mortos seriam cultuados, posteriormente, como sendo os únicos que tombaram naquela noite. Mas, segundo Maurício Goulart, um dos ocupantes da sede da Legião, os mortos teriam sido, na verdade, doze ou treze.

A mobilização de 23 de maio veio a se constituir em apenas mais um passo na articulação clandestina que os paulistas vinham montando contra o governo de Vargas. Essa articulação só se tornaria pública na noite de 9 de julho de 1932, quando tropas da 2ª Região Militar e da Força Pública, sob o comando de Isidoro Dias Lopes e Euclides Figueiredo, desfecham uma fulminante manobra de ocupação dos pontos estratégicos da capital paulista. Na madrugada do dia 10, Quitaúna, único quartel da região que esboçara certa resistência, acaba abrindo seus portões, e assim, sem disparar um único tiro, os rebeldes passam a controlar o estado de São Paulo. Começa a Revolução Constitucionalista.

O movimento, porém, tem origens que remontam há um ano antes. Em abril de 1931, o Partido Libertador gaúcho manifestara sua solidariedade ao Partido Democrático de São Paulo por seu rompimento com o interventor João Alberto. Ainda em 1931, cresce no exército a preocupação de que a presença de tenentes nas interventorias subvertia a hierarquia. A partir desse argumento, o general Isidoro Dias Lopes inicia sondagens visando à derrubada do governo provisório. No Rio, ele alicia, entre outros, os tenentes Severo Fournier e Agildo Barata, bem como o coronel Euclides Figueiredo. Em São Paulo contava com o apoio de ampla camada da oficialidade e no Mato Grosso sensibilizara o comandante da região o general Bertoldo Klinger.

O próprio interventor gaúcho, Flores da Cunha, prometera pegar em armas contra Vargas. Em Minas Gerais, os rebeldes, se não contavam com o apoio, pelo menos contavam com uma neutralidade simpática, em caso de levante. Ante esse quadro, fixou-se a data da revolução para o dia 14 de julho de 1932, data de aniversário da Queda da Bastilha, na França.

Fatos novos, porém, fizeram com que essa previsão não fosse cumprida. Desgostoso com a nomeação para o Ministério do Exército de Augusto Inácio do Espírito Santo Cardoso, um general reformado, Bertoldo Klinger escreve-lhe uma carta desaforada e em consequência, é destituído e passado para a reserva, eliminando a possibilidade de Mato Grosso participar da revolução. Diante desse imprevisto, o coronel Figueiredo viaja às pressas, do Rio para São Paulo, na noite de 8 de julho. E na manhã seguinte decide, juntamente com alguns líderes políticos, entre os quais Júlio de Mesquita Filho, deflagrar a insurreição na noite desse mesmo dia.

Fonte de Pesquisa: Nosso Século, Abril Cultural, 1981.

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Um comentário:

  1. Como paulistano e por tanmbém ter o sobrenome Camargo me orgulho muito dessa data. Precisaríamos de pessoas assim hoje em dia que vemos nossos direitos serem pisoteados e nada fazemos. Não que seja necessária mais uma guerra, mas muita coisa poderia ser feita. Haja vista a retirada de Collor. Não sei pq nos tornamos tão fracos. parabéns pelo post, Luiz!
    Abraços

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