17 de julho de 2009

Entrevista: vice-presidente da Faesc analisa o mercado mundial de carnes

Com o propósito de reduzir a dependência externa e buscar a auto-suficiência em carne bovina, a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) desenvolvem o programa de capacitação de produtores rurais na pecuária de corte.

O projeto, que iniciou no segundo semestre de 2008 e prossegue até o fim deste ano já apresenta resNelson1ultados significativos. Até o final do programa, serão capacitados cerca de 1.000 produtores mediante investimentos da ordem de R$ 400 mil reais. Nesta entrevista, o vice-presidente da Faesc, Nelton Rogério de Souza, fala sobre o andamento do programa e analisa o mercado mundial de carnes.

De que forma está sendo desenvolvido o treinamento na área de pecuária de corte?

Nelton Rogério de Souza – Através do programa foram desenvolvidos seminários regionais no segundo semestre de 2008 nas cidades de São Miguel do Oeste, Xanxerê, Campos Novos, Lages, Canoinhas, Tubarão, Curitibanos, Bom Retiro e Campo Êre. O objetivo foi apresentar e debater com os produtores assuntos relacionados a integração da lavoura e pecuária, melhoramento e manejo de pastagens, planejamento e gerenciamento de atividade pecuária, realização de feiras e exposições para comercialização de bovinos e exportação de terneiros com até 300 kg de peso vivo, para países da Comunidade Econômica Européia.

Neste ano, foram realizados treinamentos de “Capatazia na bovinocultura de corte” nos municípios de Ponte Serrada, Ponte Alta Joaçaba, Abdon Batista, Bom Retiro, Catanduvas, Campo Belo do Sul e Ponte Alta. A ação prossegue até o mês de agosto deste ano. Outras ações que fazem parte do programa e estão em andamento neste ano são os 10 treinamentos regionais em manejo e sanidade de bovinos de corte; 20 treinamentos em produção e manejo de campo nativo e naturalizado; 10 palestras técnicas para discussão e uniformização de conceitos e 10 reuniões regionais sobre legislação ambiental e agrária relacionadas à pecuária de corte. Também serão realizados até o final do programa, 50 dias de campo em propriedades de produção pecuária e estações de pesquisa para observação de tecnologias de produção e seus resultados.

Por que o Estado é deficitário em carne bovina? E como surgiu a iniciativa de implantar o programa em Santa Catarina?

Nelton – Santa Catarina importa, a cada ano, 66.000 toneladas de carne bovina para atender o consumo da sua população. A baixa produção do produto deve-se à topografia acidentada do Estado, formada por milhares de pequenas propriedades que precisam explorar produtos de maior densidade econômica, como a suinocultura e a avicultura industrial, porque dispõem de áreas reduzidas de pastagens naturais. Mas é possível ampliar a produção e, com isso, fortalecer o mercado catarinense no que se refere à oferta do produto. Foi o que nos motivou a desenvolver e implantar o programa.

Que resultados é possível observar até o atual momento?

Nelton – O programa visa a ampliação da oferta de carne bovina, oriunda do rebanho catarinense, através da capacitação dos produtores rurais no uso de práticas que possibilitem o aumento da produção das áreas ocupadas pela lavoura e pecuária no programa de integração e, salientar, que estamos dando ênfase especial na melhoria dos animais ofertados para o abate. Os treinamentos estão sendo desenvolvidos para pecuaristas, capatazes e empregados de fazendas em melhoramento e manejo de pastagens para gado de corte, manejo e sanidade de bovinos, administração e gerenciamento de estabelecimentos rurais e uso racional e conservação dos solos utilizados com pastagens. Em relação à sanidade e a logística, já tínhamos capacidade para exportar, mas precisamos organizar a cadeia produtiva e mostrar este potencial para a Europa. Os resultados estão aparecendo e o programa está contribuindo para o fortalecimento da produção de carne bovina catarinense.

Quais são os aspectos que favorecem a produção catarinense de carne bovina, na sua opinião?

Nelton – Além da logística e Estado livre de febre aftosa, há vantagens no sistema de identificação animal. Também existe a possibilidade de muitos produtores desenvolverem a bovinocultura mista (leite e corte), intensificar a integração lavoura-pecuária e exportar bezerros com até 300 kg para a União Européia através da Itália.

Como está o mercado mundial de carne bovina?

Nelton– Os Estados Unidos, o Brasil, a União Européia e a China são os maiores produtores mundiais de carne bovina. Os Estados Unidos são também grandes consumidores e os maiores importadores mundiais, seguidos da Rússia, Japão, União Européia e México. O Brasil é o segundo produtor mundial, superado apenas pelos EUA. Como produz quantidade bem acima do seu consumo é, atualmente, o maior exportador mundial.

A pecuária bovina de corte é uma das principais atividades da produção agropecuária, tendo um destacado papel no processo de ocupação do território nacional. Explique a importância da criação de gado de corte em nosso país?

Nelton – Os fatores determinantes para a expansão da atividade no Brasil, possibilitando a ocupação e aproveitamento dos mais variados espaços para criação, devem-se aos cruzamentos e aprimoramentos das raças zebuínas com predominância do gado nelore que melhor se adaptou às condições brasileiras, como também à introdução de pastagens plantadas, caso das branquearias que se adaptaram perfeitamente às condições climáticas do País. A CONAB informa que o abate de bovinos situa-se em 48,4 milhões de cabeças no Brasil.

Qual o papel do Brasil em relação à pecuária de corte mundial?

Nelton – As vantagens comparativas do Brasil sobre os seus principais concorrentes no comércio mundial permitiram um substancial crescimento das exportações sobre a produção brasileira. Em 2001, o Brasil exportava cerca de 12% da produção nacional; em 2007 este percentual alcançou os 21%. Entre os principais países importadores de carne bovina brasileira estão Rússia, Egito, Estados Unidos, Reino Unido, Hong Kong, Itália e Países Baixos. A diversificação nos destinos foi impulsionada, em grande parte, pela crise da doença da vaca louca na União Européia e nos Estados Unidos, com o Brasil caminhando no sentido de ampliar sua pauta de exportações, o que vem garantindo a importância desse setor no agronegócio. É importante destacar que, dentre os produtores mundiais, o Brasil é um dos poucos que tem potencial de aumento de seu rebanho bovino, por deter um vasto potencial de crescimento no sistema extensivo com produtividade e qualidade, uma vez que a maior parte da carne bovina brasileira é produzida a pasto.

Qual é a tendência de mercado?

Nelton – A tendência é de que o Brasil amplie suas exportações de carne bovina nos próximos anos, o que deverá tornar os preços no mercado interno mais elevado, abrindo possibilidades do aumento da produção em regiões onde tradicionalmente isso não ocorria, como é o caso de Santa Catarina. Há tendência da pecuária de corte se expandir nas médias propriedades rurais de Santa Catarina, principalmente nas regiões tradicionalmente produtoras de suínos e aves, pela utilização dos excrementos desses animais na fertilização das pastagens cultivadas.

Fonte: Marcos A. Bedin
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