Em 1903, aos quinze anos, Dilermando de Assis transferiu-se de São Paulo para o Rio de Janeiro, ingressando na Escola Militar. Dona Lucinda, tia de Dilermando, morava no Rio, numa pensão refinada, em companhia de sua amiga, dona Anna, esposa de Euclydes da Cunha, que se encontrava havia alguns anos em missão diplomática no Acre. Uma tragédia esperava Dilermando. Seu depoimento, ao jornal Diário de São Paulo, entre agosto e outubro de 1949:
“Uma vez no Rio de Janeiro, passei a morar na Fortaleza de São João, em companhia de meu tio e padrinho, major José Pacheco de Assis, irmão de meu pai. Nada mais natural que visitasse minha tia Lucinda, na pensão da rua Senador Vergueiro, e, desse modo, passasse a ver com frequência a esposa de Euclydes da Cunha. No ano de 1905, minha tia e dona Anna sugeriram que lhes poderia fazer muito bem companhia, residindo também na pensão.
Concordei. tinha eu dezessete anos. A convivência acarretando a intimidade; a falta de experiência em malícia permitindo aproximação mais íntima; as leituras em comum despertando fantasias; a puberdade deslumbrando encantos; a coincidência de predileções desportivas trazendo o embevecimento; a ausência de um conselho protetor que advertisse o curso da idolatria prestes a converter-se em paixão."
No começo de 1906, Euclydes da Cunha regressou do Acre e, alertado por uma carta anônima passou a desconfiar do romance de sua esposa com Dilermando. Continua Dilermando em seu depoimento:
"Euclydes travava, a meu respeito, terríveis discussões com sua esposa, a ponto de romper-lhe as roupas. Poucas semanas depois, em março de 1906, a Escola Militar era transferida do Realengo para Porto Alegre e, como aluno, tive que seguir para a capital gaúcha. No começo de 1907, no gozo de férias, voltei ao Rio. Estava no conhecimento de fatos anormais e extraordinários ocorridos na residência de Euclydes da Cunha, inclusive com o nascimento e a morte quase imediata, de uma criança, vinda ao mundo seis meses após o regresso do escritor de sua permanência no Acre. Era mauro, meu filho.
Em novembro, de 1906, recebia a participação do nascimento de outro menino, de quem Euclydes, falando a Medeiros de Alburqueque, disse ser uma espiga de milho num cafezal. A criança era loira, cabelo crespo, olhos azuis, destacando-se dos demais filhos, morenos. insultando dona Anna, vexando-a diante de estranhos, afugentando-a de si, esquecendo-a em troca de suas predileções literárias, abandonado-a longamente, foi Euclydes quem, desgraçadamente para si, a largou na desventura e fomentou sua infelicidade.
A 12 de agosto de 1909, quinta-feira, dona Anna o abandonou e se recusou a voltar ao lar. Resolveu a esposa do escritor pernoitar em casa de sua mãe. Na sexta-feira, ao regressar de um passeio a cavalo, encontrei dona Anna na minha residência, onde pernoitou. Na noite de sábado, Sólon, o filho mais velho de Euclydes, esteve em minha casa, participando que seu pai havia mandado dizer à sua mãe que fosse, em sua companhia, encontrar-se com ele. A resolução final foi que, Anna, não regressaria naquela noite e sim no dia seguinte pela manhã em companhia de Sólon."
Na sequência de seu depoimento, Dilermando, narra em detalhes como ocorreu o crime. Mas esta história é assunto para um próximo artigo.
Fonte de pesquisa: Nosso Século, Abril Cultural, 1980
Seu lUIZ Algumas partes desta estoria eu conheço da minisserie da globo,e ja li o livro dele mais famoso OS SERTÕES POR SINAL UMA OBRA PRIMA.
ResponderExcluirMuito interessante essa história. parabéns.
ResponderExcluirA minissérie da Glogo "Desejo" foi uma das que mais gostei. Foi o primeiro trabalho de porte da Glória Perez e, diga-se de passagem, o melhor. Na época não tinha internet e o pouco que encontrei acerca da biografia de Euclydes da Cunha, nada constava sobre as circunstâncias de sua morte. Fico no aguardo dos "detalhes" do próximo post!
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