3 de abril de 2010

Corrida da água

Cidades dos cinco continentes preparam, para o dia 18 de abril, corrida de seis quilômetros. A metragem, específica, é a média que muitas pessoas precisam percorrer em regiões do planeta para conseguir água potável.

Existe água potável em abundância no planeta? Sim. Existe água de qualidade em abundância? Em alguns lugares não. “A dificuldade é a distribuição política da água. É fazer essa água estar junto aos agrupamentos humanos, sem a fonte estar contaminada”, explicou o geógrafo Walter Costa Ribeiro em entrevista ao Instituto Humanitas (IHU), da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos).corrida

A água não está acabando. O volume que existia há 100 mil anos é o mesmo de hoje. “Ela pode se tornar inadequada para consumo ou insuficiente diante de uma demanda crescente em determinados lugares. O grande desafio é gerir a água”, assinalou para o IHU o professor Evaristo Eduardo de Miranda, pesquisador na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

Assim como ocorrem hoje disputas bélica pelo petróleo, no futuro a água estará no centro de discórdias. “O caso mais enfático é a disputa de água no Oriente Médio. Este fenômeno tende a aumentar nos próximos anos”, vaticinou o professor de Direito Ambiental na Unisinos, Délton Winter de Carvalho.

Apenas 3% da água do planeta são doces e a maior parte desse total – 2,5% - encontra-se em estado sólido, congelada nos pólos Norte e Sul. Restam, portanto, apenas 0,5% de água doce, localizada em rios, lagos e aqüíferos, para consumo humano.

O Brasil é um dos maiores reservatórios de água doce do mundo, com 12% do total, ou seja, só o país tem mais reservas que todo o continente da África, com 9,7% do total mundial.

Menos de dez países concentram 60% da oferta global de água disponível: Brasil, Rússia, China, Canadá, Indonésia, Estados Unidos, Índia, Colômbia e República Democrática do Congo.

Só o Brasil responde por 57% do total de água disponível na América Latina. Mas no próprio país, a distribuição da água é desproporcional. Enquanto a região Norte detém quase 68% de toda a oferta hídrica superficial do país e abriga apenas 4% da população nacional, a região Sudeste, com 43% dos habitantes brasileiros, tem somente 6% da oferta hídrica.

Um outro problema do Brasil é o saneamento básico, pois ainda prevalece a máxima – cano enterrado não dá voto. Somente metade da população brasileira tem acesso ao serviço de coleta de esgoto e só um terço dos esgotos no Brasil é tratado.

“Trata-se de um autoenvenamento a conta-gotas, silencioso e invisível aos sentidos humanos, mas desastroso após anos de ingerência ambiental. Há uma relação direta entre a falta de saneamento básico, contaminação ambiental e saúde pública”, destaca Winter de Carvalho.

As consequências desse quadro refletem-se na saúde e até mesmo na educação. São cerca de 700 mil internações hospitalares por ano, sete óbitos por dia de crianças entre um a seis anos de idade, queda de 18% na aprendizagem de crianças que convivem em ambientes insalubres, pois não são saudáveis, enumera o presidente do Instituto Trata Brasil, engenheiro Raul Graça Couto Pinho.

Na avaliação do professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Dieter Wartchow, os serviços essenciais de saneamento básico são um direito e ações nessa área devem estar acima dos interesses corporativos e políticos.

O Estado, definiu Wartchow, não pode abrir mão de suas responsabilidades. Privatizar a prestação dos serviços de abastecimento de água, de esgotamento sanitário ou os recursos hídricos “significa cometer um delito social, pois coloca um direito humano e da vida nas mãos de mercadores de ilusão”.

“A água é a seiva do nosso planeta. Ela é a condição essencial de vida de todo ser vegetal, animal ou humano”, reza o artigo segundo da Declaração Universal dos Direitos da Água. O décimo artigo da Declaração enfatiza que “o planejamento da gestão da água deve levar em conta a solidariedade e o consenso em razão de sua distribuição desigual sobre a Terra”.

A ingestão de água contaminada provoca doença nas pessoas, como cólera, disenteria amebiana, disenteria bacilar, febre tifóide e paratifóide, gastroenterite, giardise, hepatite infecciosa, leptospirose, paralisia infantil, salmonela.

Outras doenças acometem os humanos pelos simples contato com água contaminada: escabiose (sarna), tracoma, verminoses. E ainda há doenças que têm na água limpa um estágio de ciclo de vida de seus vetores, como a esquistossomose, a dengue, a febre amarela, a filariose e a malária.

Fonte: ALC

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