É muito difícil viver na “realidade”, tomando aqui realidade no sentido de vivências compartilhadas através da linguagem. Viver a todo o momento tendo absoluta consciência do que nos concerne pode ser insustentável, assim como inventar uma outra realidade imaginária também o é.
Falo dos efeitos que devem estar causando em todos nós as inúmeras notícias sobre corrupção. Não que seja algo novo. O fato é que cada vez mais as situações estão a descoberto e somos induzidos a cada vez menos nos esconder atrás do poderio e da tranqüilidade da ignorância. O que vai dar disso tudo não sei. Temos várias possibilidades: ou exercemos a nossa cidadania, tendo mais critérios para votar nos políticos, por exemplo, e exercitamos o direito de exigir no mínimo uma melhor aplicação do nosso dinheiro, ou entramos naquela famosa e conhecida zona de impotência e anestesiamento que é a posição em que estamos inseridos em relação à violência. Não se sente mais nada; passamos a considerar esperado o fato de podermos ser assaltados a qualquer momento. Já é algo natural encher as nossas casas de alarmes, não andar em locais escuros, etc. Cada um cuida de si na medida do possível, se protegendo dessa forma, mas não exercendo o direito de exigir que o Estado cumpra uma de suas funções que é cuidar da segurança dos cidadãos. Mas como fazer isso?
Cada povo tem o governo e a sociedade que merece. Pode ser duro ouvir isso, mas não sei se tem como pensar diferente. Pois se as coisas estão como estão é porque nós deixamos estar assim. Somos co-responsáveis pelo ambiente que nos envolve e pelo tipo de vida que levamos. É muito cômodo justificar sempre que a responsabilidade está fora de nós: no passado que tivemos, no pai ou na mãe, nas experiências “traumáticas”, nos políticos, no sistema econômico e por aí afora.
Botemos “a mão na consciência”! Podemos pensar que é quase impossível fazer frente a essa “podridão” que vivemos, onde o poder cega e valores como honestidade, lealdade e integridade parecem estar em desuso. Somos espoliados diariamente pelas taxas escorchantes de impostos, pelo pagamento duplo na área da educação, saúde e segurança. E, mais do que isso, somos agredidos e aviltados por termos geralmente um atendimento de péssima qualidade por parte dos órgãos públicos e por ver o nosso dinheiro indo para o ralo da corrupção e da manutenção do poder estabelecido.
Quem sabe a sensação de impotência e revolta que sentimos diante disso tudo – diante desse excesso de realidade - consiga mexer com os nossos brios e nos desperte da letargia da nossa alienação! A perda da esperança de que pelo menos alguém ou algum partido poderia representar a salvação da falência dos nossos valores talvez nos ajude a refletir que parte nos cabe da responsabilidade sobre isso tudo! Podemos começar por analisar como são os nossos atos e palavras dentro da nossa própria casa: com nossos filhos, companheiro ou companheira, pais, funcionários. O quê efetivamente valorizamos e transmitimos?
Por: Návia T. Pattussi/Psicanalista
Fonte: MARCOS A. BEDIN
MB Comunicação Empresarial/Organizacional
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