28 de abril de 2010

Como viver sem ilusões!

Entro no carro e pego a estrada com minhas mãos. Embrenho-me nela como se fosse eu e dirijo-me ao infinito tomando-o como finito: o meu destino é a próxima parada. Penso que seguramente chegarei ao local onde penso chegar e é baseada na certeza ilusória de que nada da ordem do acaso modificará o final deste trajeto que me mantenho na estrada.

Faço planos para o futuro: meus objetivos pessoais, infraestrutura para uma boa educação para os filhos, plano de saúde, contribuição previdenciária. Enfim, preciso acreditar que viverei até nem sei quando para poder manter-me em pé e sustentar algum sentido que justifique a minha existência.

Ouço as aulas de um curso, ou leio um livro. Faço um esforço para ficar dentro disso, apesar de pegar-me constantemente devaneando, fantasiando no mundo infinito das minhas imagens e desejos. A racionalidade é uma exceção, uma mera intenção, uma pretensa ponte para comunicar-me ou prender-me à realidade que me envolve.carroviagem

Posso manter um relacionamento estável com outra pessoa baseada na utopia mútua de que nos conhecemos e de que cada um corresponde à imagem idealizada do outro, para justificar a manutenção de uma vida a dois.

Tomo banho todos os dias, faço os demais hábitos de higiene, faço ginástica, caminho, cuido do meu corpo como se tivesse a certeza de que ele me acompanhará para sempre.

Como viver sem ilusões! Não será esse engodo no qual estamos constantemente envolvidos que nos permite continuar vivendo? Como seria viver na realidade nua e crua?

Pensar que ao pegar o carro posso morrer na estrada, que talvez não valha a pena fazer planos, pois não sei qual o tamanho do meu futuro uma vez que minha vida pode acabar a qualquer instante, suportar racionalizar cada gesto que faço, confrontar-me com o fato de que não sei quem verdadeiramente é o meu companheiro e tampouco ele sabe de mim. Enfim, suportar encarar que tampouco eu sei com certeza quem sou, e que não posso prever sempre as reações que terei diante das vicissitudes da vida.

Talvez por isso precisemos também de “momentos de suspensão da existência”, como dizia algum autor. São momentos em que necessariamente nos desligamos totalmente de tudo o que nos liga à realidade, onde nos esquecemos totalmente de que existimos. Isso pode ocorrer quando assistimos a um bom filme, ouvimos uma música que nos toca profundamente, temos uma relação sexual de qualidade, ou inúmeras outras situações que conseguem nos capturar de tal forma que momentaneamente nos alienam totalmente do que nos cerca e nos concerne

É fascinante viver isso tudo apesar de doloroso, por vezes! Não ter certeza de nada nos obriga a reinventar todos os dias formas que nos permitam continuar vivendo, o que pode nos tornar pessoas melhores e com mais recursos para fazer frente ao inusitado que sempre nos espreita.

Por: Návia T. Pattussi/Psicanalista/naviat@terra.com.br

Fonte: MARCOS A. BEDIN

MB Comunicação Empresarial/Organizacional

mb@mbcomunicacao.com.br

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