25 de dezembro de 2009

A tapeação das feridas

Preciso falar sobre algo que me preocupa e que ouço com muita freqüência: “Eu não quero tocar nos problemas”, “Não quero pensar”, como se o ato de falar sobre o que traz sofrimento fosse aumentá-lo, trazendo consigo uma dor imaginariamente insuportável.

Eis aí um grande engodo. A nossa realidade nos mostra no dia a dia o quanto estamos à mercê dos fatos ou dos acontecimentos quando não conseguimos identificar as suas causas, de onde vêm e por quê. Isso ocorre nas empresas, nas famílias e em relação a nós mesmos também. Pensemos também naquele fatídico 11 de setembro nos Estados Unidos, quando as torres gêmeas foram destruídas por um inimigo até então invisível. É muito difícil combater algo sem dar-lhe um nome, isto é, sem que consigamos identificá-lo, e só o identificamos quando para além de provas concretas conseguimos falar sobre isso para alguém.feridas

O desconhecimento das causas e relações nos deixa numa posição de alienação extremamente perigosa posto que ficamos numa condição de escravidão em relação a nós mesmos e aos fatos.

O psicanalista gaúcho José Luiz Caon fala que “mais perigosas são as feridas que não doem” e eu acrescento ainda, as feridas que não queremos ver. Posso colocar uma gaze ou uma roupa encima delas, ou fazer de conta que elas não existem, mas nem por isso deixam de proliferar. Posso somente tomar calmante para aliviar a dor, mas essa medida não estanca o processo de disseminação que então ocorre de forma velada e nos pega desprotegidos. É como escalar um paredão, com uma perna anestesiada. Podemos quebrá-la e não sentiremos nada. Assim, continuamos avançando, avançando e detonando tudo por dentro.

Assumir os problemas em todas as áreas de nossa vida é a possibilidade que temos de nos tornarmos senhores deles. A melhor luta, ou aquela em que a possibilidade de término é possível é quando os inimigos conseguem se identificar.

Vivemos num mundo permeado por uma lógica contrária, onde a verdade se esconde, há a sedução pelas aparências belas, as falas convincentes, as promessas de felicidade ou de milagre. Quem não gostaria que tudo se resolvesse como num passe de mágica de forma que nos eximisse de tomar atitudes, de assumir riscos, de abandonar coisas e lançar-se em mares bravios e inusitados?

Resquício de um infantil que nunca nos abandona? Infantil que insiste em manter-se, de sorte que teima em não abandonar a ilusão de que existe em algum lugar alguém ou algo que nos salvará independente da nossa vontade, de nosso esforço, como se ficássemos esperando que, repentinamente, um “estalo” resolvesse tudo.

Mas por sorte, isto é, por uma questão de sobrevivência até, não somos feitos só de “infantil”, e somos merecedores dos regozijos decorrentes das longas batalhas, vitoriosas ou não, pois mesmo diante daquelas em que aparentemente não vencemos é possível sairmos com maior resistência e com ampliação da nossa visão de mundo.

Por: Návia T. Pattussi/Psicanalista

Fonte: MARCOS A. BEDIN

MB Comunicação Empresarial/Organizacional

mb@mbcomunicacao.com.br

marcos.bedin@mbcomunicacao.com.br

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2 comentários:

  1. O melhor é enfrentar logo os nossos problemas, pois se deixamos para depois poderá ficar ainda maior.

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  2. Problema é como uma bola de neve se não resolvido vem outro e outro, e depois se torna impossível ter uma solução.
    Abraços forte

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