11 de janeiro de 2011

Afinal, quem paga mais, leva!

Se não aparecer lance maior nos próximos dois dias, é bem provável que o Flamengo anuncie a contratação de Ronaldinho Gaúcho nesta semana. Qualquer notícia que envolva o atleta deve ser colocada na condicional, de tantas reviravoltas que essa novela de quase um mês já teve, desde que o Grêmio anunciou a repatriação do jogador.

É complicado entrar no mérito das tramitações, tamanha a complexidade de quesitos envolvendo essa transação, desde a multa rescisória, o salário do jogador, os contratos publicitários, acordos que ele já tem com multinacionais do esporte e que não podem entrar em choque com as marcas que os clubes divulgam. Da corrida envolvendo o Grêmio, o Flamengo, o Palmeiras e o Corinthians dá para tirar, contudo, algumas conclusões.

Primeiro, os clubes de futebol dão um péssimo exemplo comportamental. De acordo com a empresa de consultoria Crowe Horwarth RSC, os 26 clubes que disputaram a séria A do Campeonato Brasileiro em 2009 registraram um endividamento na ordem de 3,1 bilhões de reais. No topo da lista aparece o Vasco da Gama, do Rio, com uma dívida de 377,5 milhões de reais, seguido pelo Flamengo e o Fluminense, que teriam dívidas estimadas em 333,3 milhões de reais e 320,7 milhões de reais, respectivamente.RGaúcho

Os outros três concorrentes ao passe de Ronaldinho Gaúcho não ficam atrás no rol dos endividados. O Corinthians aparece ocupando o sexto lugar nessa lista, com uma dívida de 255,1 milhões de reais, o Palmeiras vem logo atrás, com 197,2 milhões de reais, e o Grêmio, na décima primeira posição, tem uma dívida estimada em 154,6 milhões de reais.

A Casual Auditores Independentes tem dados um pouco diferentes da Horwarth, mas arrola os mesmos clubes com dívidas astronômicas. O passivo dos 14 maiores clubes de futebol brasileiros passou de 1,2 bilhão de reais, em 2007, para 2,4 bilhões de reais em 2009, enquanto o faturamento dos clubes subiu de  1,28 bilhão de reais para 1,57 bilhão de reais no mesmo período, representando um crescimento de 22%, abaixo, portanto, da evolução do passivo.

Com falta de recursos próprios, os clubes procuram parcerias com empresas, contraem empréstimos bancários para pagar empréstimos menores, adiantam quotas de direito de televisionamento de jogos, vendem espaços em camisetas, calções, estádios, e por aí afora para manter o departamento de futebol e efetuar contratações de atletas. Quase 60% da dívida dos clubes são de ordem fiscal! Condescendente, o Estado renegociou prazos das contas que tem a receber, como é o plano da “Timemania”.

Nas negociações, todos os quatro clubes interessados em contar com Ronaldinho Gaúcho no seu elenco teriam oferecido mais de 1 milhão reais de salário mensal ao atleta, alguns com ofertas maiores, outros com alguns milhares de reais a menos. Em negociação com o Milan, que detém o passe do jogador em contrato que vai até junho de 2011, o Flamengo teria oferecido 6 milhões de reais ao clube italiano para liberar o jogador.

Qualquer pessoa jurídica, física, com esse quadro de endividamento diria ao vice-presidente do Milan, Adriano Galliani, “vamos aguardar seis meses, quando termina o contrato do Ronaldinho e não teremos, então, multa rescisória a entravar as negociações”. Numa verdadeira afronta ao bom senso, os clubes se dispõem a pagar a multa rescisória. Qualquer consultor financeiro desaconselharia negociar nessas condições, ainda mais para quem já tem contas pendentes.

O recado que os clubes passam – e não só no caso Ronaldinho Gaúcho, mas em toda contratação milionária de jogadores ou de técnicos – é que endividamento não é problema. Só faltam recomendar o calote! Um recado com outro sinal, positivo, do Clube dos Treze seria a fixação de um teto na contratação de atletas, com o comprometimento de que nenhum time pagaria mais do que o valor máximo fixado.

Uma das maiores palhaçadas dos últimos tempos na área desportiva foi a entrevista coletiva convocada pelo empresário e irmão de Ronaldinho, Roberto Assis, na quinta-feira, no Rio. Quando todos esperavam o anúncio em qual clube o atleta, afinal, jogaria em 2011, a coletiva foi uma enrolação, mas que deixou evidente um ponto: Assis e o Milan promoveram um leilão.

Com o palco montado na sexta-feira, no Estádio Olímpico, o Grêmio tinha a festa preparada para anunciar a contratação do jogador. No sábado, o presidente Paulo Odone anunciou que o Grêmio não participaria do leilão, que o clube chegou no máximo das condições que poderia ofertar ao atleta. Informou que o contrato estava pronto, preparado pelos advogados de Ronaldinho e do Grêmio, depois de atender sete modificações exigidas por Assis.

Ronaldinho declarou que o seu time do coração era o Grêmio, clube que o revelou para o mundo. Até Pelé, em coletiva de imprensa, disse que se Ronaldinho ama o Grêmio, deveria até jogar de graça para o clube, a quem deve o que é, e acabar com esse leilão. É triste ver um atleta que parece não ter vontade própria, dependente total de seu procurador.

Entre clube e atleta está o torcedor, que, no cômputo final, paga a conta, vibra e sofre com o time. Para o torcedor, futebol é paixão. Já o atleta, hoje veste a camiseta do Inter, amanhã a do Fluminense, do São Paulo, do Cruzeiro, do time europeu. Afinal, quem paga mais leva.

Por: Edelberto Behs/ALCNotícias

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