21 de dezembro de 2010

Qual a origem do Boi-de-Mamão?

A brincadeira do Boi-de-Mamão, que tanto encanta crianças e adultos por onde se apresenta, é uma das manifestações mais populares do litoral catarinense, revelando um auto dramático, encenado com alegre coreografia, ao som de uma cantoria que contagia e envolve todo o público.

Segundo alguns pesquisadores trata-se de uma versão do Bumba-Meu-Boi difundido no Noboidemamaorte e Nordeste do Brasil. No livro "Águas Passadas", de José Boiteux, consta como primeiro registro da brincadeira em Santa Catarina, o ano de 1871. A obra descreve uma dança realizada em Desterro (antigo nome de Florianópolis).

Mas uma nova pesquisa, afirma que o Boi-de-Mamão, pode ter chegado à Ilha de Santa Catarina por obra dos espanhóis que várias vezes estiveram em terras catarinenses entre os anos 1500 e 1800, e não por influência do bumba meu boi nordestino como defendem alguns pesquisadores. 

A surpreendente revelação é um dos assuntos do livro O Boi de Mamão, folguedo folclórico da Ilha de Santa Catarina – Introdução ao seu Estudo, do professor e folclorista Nereu do Vale Pereira, pesquisador do Núcleo de Estudos Açorianos da Secretaria de Cultura e Arte da UFSC. A obra foi lançada na sexta-feira (17/12), às 16h30, no Largo da Alfândega, dentro da programação do Encontro de Bois de Norte a Sul -Ano 2.

Estudioso da cultura açoriana, o pesquisador também descarta a origem do folguedo nos Açores, contrariando o pensamento de muitas pessoas que divulgam a tradição. “Nos Açores não existe boi de mamão. Há brincadeiras com o boi de verdade, no campo ou na corda”, contesta o escritor. Segundo ele, o folguedo catarinense tem semelhança com práticas ibéricas ligadas às corridas de touro como o Juego de La Vaquilla ou Toro de Mimbre, feito com bois falsos para iniciar jovens nos exercícios taurinos na Espanha – e bem diferente da forma ritualística do bumba meu boi nordestino, de influência africana.

Com 188 páginas, a obra aborda as origens do boi de mamão como folguedo folclórico em Santa Catarina, assim como formas de organização da brincadeira, desde a construção dos personagens e confecção do figurino, além da seleção das cantorias e treinamento dos cantores e dançadores para sair às ruas. O livro traz ainda ilustrações de obras feitas por artistas espanhóis no século 18, que mostram imagens de brincadeiras com bois falsos confeccionados em madeira, couro ou tecido. O trabalho é resultado da vivência como participante deste folguedo popular e de mais de 30 anos de pesquisas sobre o tema nos Açores, Portugal continental, Brasil e Espanha.

Publicado pela Associação Ecomuseu do Ribeirão da Ilha, o livro tem apoio da Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes (FCFFC), Núcleo de Estudos Açorianos da Universidade Federal de Santa Catarina (NEA/UFSC), Comissão Catarinense de Folclore, Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina, Associação Literária Florianopolitana (ALIFLOR) e Academia Desterrense de Letras.

Natural de Florianópolis e descendente de açorianos, Nereu do Vale Pereira é economista, especializado em Planejamento Econômico, Sociologia e Planejamento Educacional, com pós-graduação em Ciência Humanas e Sociais. Foi professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), entre outras instituições, além de ter atuado como vereador e deputado, tendo sido um dos fundadores do Partido Democrata Cristão em 1947.

Presidente da Comissão Catarinense de Folclore, Nereu do Vale Pereira é autorde dezenas de livros, artigos e vídeos sobre a cultura açoriana, com ênfase em Florianópolis e no Ribeirão da Ilha, onde dirige o Ecomuseu. Também é membro de diversas instituições culturais, entre elas, o Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina, Academia Desterrense de Letras (ADL), Academia Catarinense de Letras e Artes (ACLA), Associação Literária Florianopolitana (ALIFLOR) e Conselho Estadual de Cultura.

Fonte: UFSC

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4 comentários:

  1. Com relação a interpretação da origem do Boi de Mamão, onde se exclui a relação com o Boi do Nordeste brasileiro, apenas tenho a lamentar, pois não faz sentido algum esta teoria.
    Tivesse o pesquisador atribuído influência espanhola e portuguesa a dança do Boi de mamão tudo bem, pois sem dúvida esta influência é determinante para diferenciar nosso boi dos demais. Agora dizer que não há relação alguma com o bumba meu boi é muita falta de comprometimento com a história. Poderia aqui citar dezenas de motivos que confirmariam a relação do boi do sul com o nordeste, porém deixo ao próprio pesquisador esta procura. Aliás, deveria existir uma lei que proibisse publicações patrocinadas por entidades de representação de classe.

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  2. Também não concordo com a teoria de nosso Boi estar excluído dos demais Bois do Brasil quanto a sua origem. Entendo que o livro deve ser tratado como pesquisa e não como algo a ser repassado nos bancos escolares como verdade.
    Dia desses lí um livro atual sobre o povo catarinense. Um livro com mais de 600 páginas e apenas 6 linhas fazendo referência ao negro de Joinville.
    Todos sabem que os negros trabalharam nos engenhos no litoral catarinense antes mesmo dos açorianos chegarem.Mas onde você pode ler isso?
    Fazer o que né............não somos nada.........não frequentamos as rodas....as reuniões...........a política

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  3. O papel aceita tudo.

    Vitor Macedo

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  4. Sou de Pernambuco e nunca ouvi falar em Boi de mamão. Para mim é uma novidade.

    Elias

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