9 de junho de 2010

A sexualidade infantil que nos acompanha

As pesquisas sobre as manifestações da sexualidade nas diversas fases da vida pode se dizer que são recentes. Freud escandalizou a sociedade do início do século XX ao demonstrar que as crianças não eram seres assexuados como a cultura da época concebia, apesar da medicina já intuir isso. A sexualidade infantil, entre tantas manifestações, é demonstrada através do prazer que a criança sente ao chupar o bico do seio, mesmo depois que o mamá termina. O hábito de chupar bico é uma decorrência desse fato e o derivativo último é o beijo na boca.

Na obra “História Social da Criança e da Família”, Ariès (1981) coloca que o ar de embevecimento do par mãe e filho não escapava aos olhos dos párocos da igreja católica da Idade Média, representada por Santo Agostinho (354-430 d.C.). Ele entendia que a criança era símbolo do mal, fruto do pecado original, corrompida por nascer nestas condições, pecadora a ser salva através de castigos, ameaças e supressão de seus desejos. A relação amorosa e física da mãe com seu filho era um dos principais aspectos condenados, pois consideravam que essa atitude deseducava as crianças. Era inconcebível para a elite teológica e intelectual da época o prazer e o afeto vigente na amamentação. Esses aspectos foram enfatizados por Vivès, na obra “A instituição da mulher cristã”, com várias reedições na França a partir de 1542.sexo140

Essas idéias reverberaram séculos afora. Indiretamente as sociedades percebiam as manifestações da sexualidade infantil, ao mesmo tempo em que eram negadas. O corpo humano, por si só, é um corpo erógeno e não somente a área dos órgãos genitais. A sensação prazerosa de ser tocada pelo outro existe na criança e é através disso e das palavras que ouve que primeiramente ela se sente amada por alguém e consegue sobreviver psíquica e biologicamente. Afinal, quem não precisa sentir-se amado, olhado e reconhecido para manter-se vivo? Isso é uma verdade desde sempre! O infantil permanece em nós, embora os tipos de manifestações tenham outras roupagens, como o beijo na boca, por exemplo.

Uma das peculiaridades do infantil na sexualidade é a não consciência do caráter erótico do corpo, que somente começa a aparecer na adolescência e consolida-se na idade adulta quando o sujeito alcançou maturidade emocional. Porém, isso não é regra pois existem muitos adultos que se comportam como “menininhas” ou “menininhos” infantis, com sérias dificuldades no exercício da sexualidade e na condução da própria vida em termos emocionais e/ou profissionais. No fundo, o infantil da sexualidade nunca nos abandona de todo. Ao contrário do desenvolvimento biológico que ocorre através de fases maturacionais, o desenvolvimento emocional não é linear e sim circular. O que se consolida na maturidade é derivativo do infantil da sexualidade como, por exemplo, o prazer do olhar e o exibicionismo, o despertar do desejo erótico. Digamos que o que ocorre na fase adulta e adolescência em termos de sexualidade é a possibilidade (posto que não é uma certeza) de potencializar um processo que se inicia desde o momento em que o bebê começa a ter contato com o outro, através dos cuidados corporais, e manifestações de afeto.

Por: Návia T. Pattussi – Psicanalista - naviat@terra.com.br

Fonte: MARCOS A. BEDIN

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