Os preceitos morais estão incrustados nas nossas entranhas de tal forma que nem sempre percebemos o quanto eles nos “tomam” e acabam por direcionar as nossas ações e decisões.
Porém, o fato de carregarmos, sem opção de escolha num primeiro momento, os padrões morais do contexto no qual estamos inseridos nos exime da responsabilidade pelas nossas ações, apesar da influência de fatores inconscientes, subliminarmente? Então se o “cara” foi desleal, sacana, ou abusou da boa fé de alguém será que vale desculpá-lo porque foi criado assim, sua mãe ou pai agia dessa forma com ele? Geralmente quem abusa sexualmente de alguém foi vítima também de situação semelhante na infância. Vale relevar isso, em função de vivências que ele não pode ser responsabilizado por ter vivido?
É uma questão de dignidade e respeito com o outro, vê-lo como responsável pelos seus atos, independente de suas origens, pois há que se acreditar que somos seres capazes de novas aprendizagens e essas só ocorrem diante de situações de limite. Permanece no “erro” quem intimamente talvez tenha muitos ganhos com isso e geralmente ganhos perversos que ferem física ou psicologicamente o semelhante. O duro é quando vemos a sacanagem institucionalizada através da corrupção, por exemplo, ou quando não percebemos sanção onde ela deveria ocorrer. Muitas autoridades que deveriam fazer valer as conseqüências do cidadão burlar as leis de trânsito “deixam passar” o motorista alcoolizado, potencial assassino nas vias públicas, por exemplo.
“Deixar passar” o que talvez não pudesse ser deixado em “branco”! Vivemos isso muitas vezes nas nossas casas ou nos contatos sociais, relevando situações para não nos estressarmos ou por covardia. O pior é quando nos acostumamos tanto com absurdos que eles passam a não ser mais percebidos.
Se a ética aristotélica preconizava que devíamos ser virtuosos, isto é, controlados nos nossos impulsos e desejos pelo bem da coletividade e se o cristianismo trouxe como novidade um controle dos “pecados” pelo temor a Deus, o que vivemos hoje? Se o bem comum pelo visto está indo pelas “cucunhas” e o temor a Deus parece cada vez mais questionável, o que ainda teria o poder de nos fazer parar? Que ética é essa que ainda nos resta? O que estamos construindo como padrões morais, do que seja certo ou errado, justo ou injusto para minimamente podermos conviver enquanto humanos ou nos chamarmos de humanos?
Falo de ética aqui, entendendo-a como uma reflexão sobre os preceitos morais e os valores de uma determinada sociedade. É essa mesma ética que de uma certa forma interfere no equilíbrio emocional de todos nós. É o difícil embate entre o que desejamos e o que é considerado viável ou não de ser realizado, por encaixar-se ou não nos valores de uma determinada cultura, que pode nos fazer crescer ou adoecer. Uma sociedade “livre”, onde utopicamente todos possam ser e fazer tudo é algo impensável. Não há na história da civilização algo que possa ser chamado de organização social sem “interdição” ou leis que ordenem minimante as ações do ser humano.
Que os padrões morais e éticos nos cerceiam pode ser fato e que muitas vezes é uma “moral de cuecas” também é fato. Que podemos ser escravos e participantes de uma hipocrisia moral também é uma possibilidade. Então, o que nos resta? Como realizar o difícil embate de preservar a singularidade e o desejo de cada um, dentro dos limites que nos é dado perceber? Essa possibilidade pode ser vista como conquista, utopia ou uma farsa!
Por: Návia T. Pattussi/Psicanalista/naviat@terra.com.br
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Gostei do texto otimo para uma boa reflexão são idéias assim fazem a gente formar nossa opinião.
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