A medida econômica proporcionada pelo Produto Interno Bruto (PIB) é equivocada.
Ela não leva em conta capitais sociais, nem mesmo os custos ambientais. Outras alternativas estão sendo buscadas em contrapartida ao PIB, como é o caso da Felicidade Interna Bruta (FIB).
A FIB baseia-se no princípio de que o verdadeiro desenvolvimento de uma sociedade humana acontece quando ele se dá tanto no campo espiritual como no material.
Assim, a FIB escora-se em quatro pilares: promoção de um desenvolvimento socioeconômico sustentável e igualitário, preservação e promoção dos valores culturais, conservação do meio ambiente e estabelecimento de uma boa governança.
“Quando os manuais de economia forem corrigidos e todos os custos sociais e ambientais da produção forem incluídos nos preços aos consumidores, perceberemos que a produção e o comércio locais e regionais são mais eficientes”, declara a consultora inglesa Hazel Henderson em entrevista ao Instituto Humanitas (IHU), da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos).
Henderson destaca que a globalização da produção e do consumo acarretou muito desperdício de energia no transporte e muita destruição da biodiversidade. Ela defende que o comércio mundial deixe de transportar bens e passe a intercambiar serviços.
Na avaliação do economista Ladislau Dowbor, o sistema econômico hoje vigente no mundo ocidental mostra-se destrutivo em termos ambientais e injusto em termos sociais.
“Hoje os bancos estão falindo e dizemos ‘estamos em crise’. Mas quando morrem todos os anos dez milhões de crianças por causas ridículas, como não ter acesso à água limpa, isso não é crise?” – questiona na entrevista concedida ao IHU.
A conta de Dowbor é simples: Ao dividir o PIB do mundo, que é de 60 trilhões de dólares, pela população mundial, que é de 6,7 bilhões de habitantes, chega-se a um resultado que dá cerca de 5 mil reais (2.560 dólares) por família de quatro pessoas, por mês.
“Isso é importante, porque significa que, se o que o planeta produz hoje fosse distribuído de maneira minimamente justa, daria para todo mundo viver de maneira digna e confortável”, garante.
O ambientalista e coordenador do Portal EcoDebate, Henrique Cortez, também faz suas contas. “A produção agrícola mundial é, comprovadamente, mais do que suficiente para alimentar toda a população do planeta. Mesmo assim enfrentamos uma inaceitável crise alimentar”, afirma, assinalando que com a produção hoje registrada daria para alimentar nove bilhões de pessoas.
O economista francês Serge Latouche, também em entrevista ao IHU, tem outro cálculo. Ele lembra que o espaço disponível no planeta Terra é limitado, de 51 bilhões de hectares. Mas o espaço “bioprodutivo” - útil à produção - é mais restrito ainda, em torno de 12 bilhões de hectares. Dividido pela população mundial chegar-se-ia a 1,8 hectares por pessoa.
No entanto, um cidadão dos Estados Unidos consome 9,6 hectares, um canadense 7,2, um francês 5,2 e um italiano 3,8. “Mesmo havendo grandes diferenças no espaço bioprodutivo disponível em cada país, estamos bem longe da igualdade planetária”, aponta.
Para reforçar o seu argumento, Latouche menciona que cada americano consome em média em torno de 90 toneladas de materiais naturais diversos, um alemão 80, um italiano 50. “Em outros termos, a humanidade já consome perto de 40% mais que a capacidade de regeneração da biosfera”, comprara.
Os Estados Unidos, com 4% da população mundial, consomem 25% da energia do planeta, arrola Dowbor na entrevista. “Se adotarmos uma forma de consumo tipo norte-americana, precisaríamos hoje de mais quatro planetas, mesmo não havendo aumento da população”, frisa.
Dowbor assinala que não é possível conciliar a sustentabilidade do planeta com a economia. Ele também questiona a mensuração do PIB e defende uma nova contabilidade, que leve em conta a qualidade de vida das pessoas.
Quando uma equipe é contratada para limpar um curso d’água poluído por dejetos, na verdade o PIB está crescendo com essa contratação, porque se aumenta o fluxo do uso de recursos, exemplifica.
“Mas quando pegamos a Pastoral da Criança que, por medidas preventivas e sem gastar em medicamentos ou com hospitalização, ela reduz a mortalidade das crianças, percebemos que ela não está aumentando o PIB, mas está reduzindo-o, porque reduziu gastos com medicamentos”, avalia Dowbor.
Fica parecendo, pois, que aumentar o PIB sempre é bom, que usar mais recursos também o é, quando, na verdade, a humanidade está gastando os recursos do planeta, contabiliza.
Fonte: ALC
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