14 de julho de 2010

O que é ter valor?

Quero deixar o meu coração falar ao invés da razão; que as emoções brotem em detrimento de um pensamento racionalizado. Detesto mensagens pasteurizadas, feitas sob medida, ao gosto do cliente, a pedido de alguém. Não será o desprendimento do que imaginamos que o outro espera de nós que permite o surgimento de novas descobertas e produções absolutamente originais de toda a ordem? Será essa a essência de uma verdadeira obra de arte, uma música, uma poesia, um texto, um bom livro?

Colado a isso então, o que tem valor? Acostumamos-nos a relacionar o valor de um objeto com o preço que ele tem no mercado. Vale o que é bem cotado, o que é valorizado nas leis mercantilistas e geralmente tem mais valor agregado o que é mais escasso, menos disponível. Quanto maior a oferta menor o preço, menor o valor. Então, escassez parece ter relação direta com valor. A possibilidade de perder algo também é algo que agrega valor. Cuida-se mais do que é mais valioso.coracao

Aparentemente usa-se essa lógica para imputar valor aos objetos e me pergunto até que ponto ela serve também para injetar valor nas pessoas. Pela lógica do mercado atual vale mais quem é mais jovem, mais adequado aos padrões de beleza feminino principalmente, quem tem dinheiro, boa aparência, discurso fácil, uma boa rede de relacionamentos. Vale mais quem aparentemente está sempre muito feliz, com sucesso; quem sustenta uma boa imagem, em detrimento de ser verdadeira ou não. Conclusão: vale mais quem tem uma boa imagem aos olhos dos outros e principalmente dos “outros” que tem importância na vida do sujeito.

Esse pensamento, segundo o psicanalista Charles Melman, na obra “Novas Formas Clínicas no Início do Terceiro Milênio”, está na base das depressões contemporâneas. Uma pessoa fica deprimida quando sente que perde o seu valor aos olhos dos outros, cujo olhar estaria inserido na lógica mercantilista. As perdas teriam a ver com a perda de uma imagem ou lugar valorizado no mercado, como a perda de um emprego, da beleza, da riqueza, etc. As perdas reais podem ser fatores desencadeantes de outros conflitos que tem a ver com a dependência do olhar do outro. Nos primórdios da construção da nossa subjetividade somos dependentes sim do olhar materno e depois do paterno também. Precisamos do investimento afetivo deles em nós para que possamos sobreviver física e emocionalmente. As sementes do amor-próprio e do valor que cada um dá a si mesmo possivelmente estão aí.

A dificuldade em verificar o que tem valor para nós pode ser decorrente da dificuldade de perceber o valor que cada um de nós tem. Se a medida for proporcional ao valor que imaginariamente pensamos que os outros nos dão, estamos sempre à mercê das oscilações do “mercado”, como se diz. É claro que precisamos sim nos sentir aceitos, valorizados, amados por alguém, no mínimo. Porém, o mundo de cada um precisa resumir-se a essa única janela? Somente o desprendimento da demanda do outro nos permite ampliar o nosso campo de mobilidade. Pois, não podemos ser amados simplesmente pelo que somos verdadeiramente embora nunca seja possível agradar a todos? Sofremos pelas nossas imaginações, fantasias, suposições!

Repetindo, “Não será o desprendimento do que imaginamos que o outro espera de nós que permite o surgimento de novas descobertas e produções absolutamente originais de toda a ordem? Será essa a essência de uma verdadeira obra de arte, uma música, uma poesia, um texto, um bom livro?”

Por: Návia T. Pattussi/Psicanalista/naviat@terra.com.br

Fonte: MARCOS A. BEDIN

MB Comunicação Empresarial/Organizacional

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