Vejo na televisão notícia sobre um grupo de crianças que assaltou hotel em São Paulo. Tinham em torno de 07 a 13 anos. Enfrentaram os funcionários, guardas, policiais e fizeram o que bem entenderam. Roubaram, destruíram o que viram pela frente, saíram tranquilamente. Foram apreendidas e mesmo assim, nada as fazia parar. Fugiram, gritaram, corriam. Apreendidas novamente, quebravam, batiam, resistiam. Foi necessária a força e a contenção para fazê-las aquietarem-se.
Nas ruas muitas usurpam, na melhor das hipóteses esmolam, dormem anestesiadas nas calçadas, drogam-se, perambulam pelas vielas, andam em bandos ou sós, como sombras de solidão em meio à multidão surda, muda, chocada e anestesiada diante de tanto horror, ou melhor, tanto abandono.
Em nossa cidade há muito tempo se sabe que há um grupo reincidente de adolescentes que assaltam estabelecimentos e residências. Paralelo a isso, para não dizer que não temos nada a ver com isso, lembremos de festinhas ou encontros de crianças e adolescentes que não são ditos “de rua”. Podem ser os nossos filhos ou dos amigos ou dos vizinhos. Distante do olhar dos adultos ultrapassa os limites quebrando coisas, negligenciando cuidados com a propriedade alheia, extinguindo a possível sanção que poderia vir do outro.
O que acontece conosco? Ou com eles? Testam os limites e a resistência dos adultos e prosseguem... continuam ultrapassando, agem, persistem e nós? Emudecidos, temerosos de barrá-los? Por que não fazê-los assumir as conseqüências de seus atos? Como podemos tentar pelo menos compreender o que se passa? O que eles querem nos dizer através de seus atos aparentemente divertidos, prazerosos e audaciosos?
A ação instiga o olhar. Algumas imagens impõem-se aos nossos olhos. Querem ser vistos? Reconhecidos? Um clamor talvez para marcar a própria existência? O que querem? O que buscam? Um prazer desenfreado? O prazer, para ser prazer precisa ter interrupção, limite, caso contrário, em psicanálise se diz que há gozo, ininterrupto, o que pode levar à morte.
As crianças e adolescentes nos convocam para que assumamos os nossos papéis tão diluídos nos últimos tempos no poder da ciência e da mídia. A verdade sobre o que deve ou não ser permitido ou buscado é ditada muito mais pela internet e programas de televisão do que pela palavra dos pais. Mas estamos enganados quando muitas vezes vencidos pelo cansaço e pela culpa assinamos embaixo disso tudo nos omitindo ou relevando, justificando as atitudes deles, reconsiderando, dando mais inúmeras chances.
Até quando? Até quando vamos permanecer resistentes em compreender que o que eles buscam com essas atitudes desvairadas é AMOR, reconhecimento de que existem, de que precisam ter um lugar mais claro e nítido nas nossas vidas? Amá-los significa barrá-los para sua própria proteção e dos outros, pois afinal ninguém vive sozinho e precisamos aprender a transitar e respeitar o limite entre o eu e o outro.
Somos convocados por eles a todo o instante e estamos surdos, mudos, amortecidos e culpados! Tomados por essa labuta diária que é viver, preocupados com a própria imagem, com a sobrevivência, também com a busca de prazer a qualquer custo, anestesiados por remédios para aliviar o mínimo mal estar, nos chocamos diante do que vimos sem nos darmos conta do clamor: “Vejam-nos se não conseguem nos ouvir, nós existimos, não nos abandonem, barrem-nos, protejam-nos e, acima de tudo, AMEM-NOS”.
Por: Návia T. Pattussi/Psicanalista/naviat@terra.com.br
Enviado por: MARCOS A. BEDIN
MB Comunicação Empresarial/Organizacional
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