Quem não ouviu em algum momento essa frase: “Dá um tempo!”, como quem diz: calma, vamos devagar! Também é utilizada para antecipar o término de um relacionamento quando alguém, em dúvida, ou não querendo ser absolutamente sincero, fala para “dar um tempo” ao invés de dizer que o relacionamento já acabou.
Há dias atrás visitei a Mostra do Tempo, promoção do SESC e Unochapecó para, juntamente com um grupo de alunos fazer um contraponto entre a concepção do TEMPO por parte da física, geografia, história, filosofia, biologia e psicanálise. Falamos então sobre o tempo psíquico que se diferencia, e muito, do tempo cronológico. Reverenciamos a física quando assevera que o tempo é pura ilusão. Mas como? O tempo não existe então?
O tempo é tal qual o vento ou o ar. Como o vento, quando se faz perceber através do sulcamento dos nossos corpos, onde deixa marcas indeléveis, ou através de fotos de outra época. As fotos reproduzem sempre o passado, pois o presente nos escapa. São segundos ínfimos que se esvaem tal qual a água que tentamos apreender com a mão e que se evade por entre os dedos. O que resta do que vivemos, efetivamente? Lembranças e marcas. As marcas são mais cruas e podem ser materializadas através de coisas concretas como uma declaração de divórcio, ou qualquer outro documento comprobatório.
No entanto, psiquicamente, o vivido é palco de um cenário imensurável, relembrado e recriado em cada detalhe. Esse registro imaginário do vivenciado nunca é uma cópia literal do que foi vivido. Por conta disso é que tudo o que vivemos pode ser reinterpretado de forma diferente ou ampliado, tal qual um livro que ao ser relido após algum tempo, é percebido de uma forma que nunca será a mesma da primeira leitura.
O tempo é como o ar. Estamos enredados nele sem nos darmos conta de que nos toma nos envolve, nos encaminha sem que saibamos exatamente para onde. Para onde, e quando e como? Somos levados pelo tempo, pelo que desconhecemos e não reconhecemos! Que mistério é esse da passagem que não se mostra! Uma amiga falava que preferia encontrar-se com velhos amigos todos os dias, pois se demorasse muitos anos para o reencontro, as marcas do tempo no corpo poderiam chocar muito. Então, o tempo passa, marca e não se mostra. Como algo invisível pode determinar tanto?
Dá um tempo! Espera! Calma! Como paralisar a ansiedade de viver o que não foi vivido, como fazer calar as palavras não proferidas, as músicas não dançadas, os anseios não realizados! Como emparelhar tempos tão diferentes? Por outro lado, como apressar o que não é possível ser apressado, como agilizar as experiências, como precipitar resultados? Temos o limite dos instantes. Podemos ilusoriamente voltar psiquicamente no tempo, mas será que conseguimos nos sobrepor ao tempo? Penso que em algumas situações podemos sim, pois muitas vezes dar tempo ao tempo, por si mesmo pode não redundar em muita coisa. Ao assumir a responsabilidade sobre os nossos dias e futuro, há que se tomar atitudes que se precipitem ao tempo. Isso é bem claro nos planejamentos estratégicos das empresas, nos planos de estudo ou de investimento, projetos de vida. Há que se ter objetivos, metas, que precipitem o futuro nem que seja como um horizonte, pois de fato nunca teremos a certeza de que chegaremos lá.
Dá um tempo! Também pode ser entendido como: “Respeite o meu ritmo, o meu processo”. Por isso quando um paciente pergunta no consultório de quanto tempo será o tratamento resta sempre uma interrogação. Qual será o tempo de cada um?
Em tempo, qual é o tempo necessário para viver, para curtir, sem correr o risco, se é que isso é possível, de “perder tempo”? O que é perda de tempo? Perder-se em detalhes sem importância? Mas como perceber o essencial? A fruta precisa de um tempo para amadurecer, algumas idéias e sentimentos também, tal qual o ditado que diz que é no andar da carroça que as abóboras se acomodam.
Por vezes, precisamos de um tempo para ordenar idéias, sentimentos, objetos. Mas... que seja breve... ou não? A espera também pode ser prazerosa, pois o objeto mais desejado é aquele que nos faz esperar e sonhar em encontrá-lo mil vezes, tantas vezes quanto for a força do desejo de alcançá-lo.
Tempo como motor do prazer, mas também Tempo como possibilidade de perda quando se estende além da medida. Como saber esse limite?
Por: Návia T. Pattussi/psicanalista/naviat@terra.com.br
Fonte: MARCOS A. BEDIN
MB Comunicação Empresarial/Organizacional
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