Lembrava de um sonho renitente, aliás, não sabia se era sonho ou real, na calada da noite, quando sem saber o quê, nem como, punha-se a pronunciar palavras sem som, que ficavam presas na garganta. Queria gritar, colocar um basta no som inexistente que ouvia, porém tão real e insuportável. Parem!
Era um martírio! Sim, uma tortura, sentir e visualizar as palavras, os pensamentos e prendê-los. Melhor não tê-los? Assim o silêncio se justificaria e seria talvez pacifica-dor.
O silêncio que dói é aquele que faz barreira à palavra que precisa revelar-se.
Paradoxalmente foi o que me ocorreu ao ver “O GRITO”, obra do pintor norueguês Edvard Munch de 1893. A boca pronta a pronunciar-se e, no entanto, vazia por que os termos estão “entalados” na garganta. Palavras não ditas, mal-ditas posto que entranhadas nas vísceras encobertas do corpo. Por quê não deixá-las circular? Será medo? Medo da rejeição, da possibilidade da briga, do vazio, de não ser ouvida ou compreendida? As amarras do temor ao suposto desamor, desatenção e indiferença, são duras!
O grito silenciado corrói, transforma o corpo tal qual o do personagem de Munch, assexuado, indiferenciado, carente de posições definidas. A palavra sufocada, sufoca, transtorna como se faltasse ar para respirar. Como sobreviver sem ar? O ar do espaço psíquico é a palavra falada ou escrita. Sem ela, há possibilidade de “vida” de verdade? O entorno se agiganta, revolve-se em pressões que aprisionam lancinantemente. A dor imiscui-se sem fronteiras entre o que pode vir de fora ou de dentro do personagem.
Mas existe também outro tipo de silêncio, quando se silencia por opção. É o silêncio do encontro consigo mesmo, é o olho no olho, quando tudo já está dito. Pode ser também o silêncio da paz, do enlevo ao admirar a paisagem.
Mas esses momentos são hiatos, pausas no mar de falas, pois mesmo assim as palavras não deixam de existir posto que invadem os pensamentos, traduzem em mensagens os sentimentos experimentados, as sensações que emergem! Sulcam nossos corpos traduzindo a tristeza ou a alegria, tensionam os músculos, produzem lágrimas, rubores, dores e prazeres.
Foto: O grito - obra do pintor norueguês Edvard Munch de 1893
Por: Návia T. Pattussi/Psicanalista/naviat@terra.com.br
Fonte: MARCOS A. BEDIN
MB Comunicação Empresarial/Organizacional
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