Nascemos com um problema, ou, talvez, com uma solução: a nossa sexualidade serve menos à reprodução da espécie e muito mais como uma fonte de prazer. Mais: o prazer sexual pode ser realizado de diversas formas e com vários tipos de objetos. Nisso, tanto pode ser homem, mulher, animal, cadáver, criança, etc. Que horror, possivelmente muitos devem estar pensando! Além disso, para complicar ou facilitar, não somente os órgãos genitais proporcionam prazer, mas todo o nosso corpo. Por isso se diz que temos um corpo erógeno, isto é, um corpo, uma pele, que tanto pode irradiar dor como prazer. Basta o toque do outro ou qualquer tipo de estimulação para que haja algum tipo de reação erógena.
E essa sensação de prazer não ocorre somente na vida adulta, apesar do orgasmo ser privilégio desta fase e da adolescência. Desde bebês, a partir do momento em que alguém toca o nosso corpo e, principalmente, toca com amor e carinho, sentimos sensações prazerosas. O protótipo desta realização é a mãe que carinhosamente amamenta o seu filho e o ar de satisfação e regozijo do bebê que se vê saciado principalmente de tanto amor. Ouve um momento na história, mais precisamente na sociedade medieval (séc. V ao XV), que era inconcebível para a elite teológica e intelectual da época o prazer e o afeto vigente na amamentação, considerados pecaminosos. Entre outros fatores, possivelmente por conta disso, por muito tempo a amamentação não foi realizada pelas mães, mas pelas amas-de-leite.
Que há uma sexualidade infantil, no século XIX muitos pensadores já admitiam isso, mas foi Freud, o inventor da psicanálise, quem aprofundou essa questão e demonstrou as formas de manifestação bem como a influência da sexualidade e a sua força como uma mola que movimenta o agir do ser humano.
Mas... sentir prazer relacionando-se com uma criança já é demais! Teóricamente a nossa sociedade elege padrões morais para canalizar tanto a sexualidade quanto a agressividade, legislando sobre o que é considerado aceitável ou não. Isso dá o tom da força destes dois fatores uma vez que tem que haver uma fonte permanente de canalização. Esse processo educativo inicia na infância ao ensinarmos às crianças que não podem, por exemplo, mexer no “pintinho” principalmente em público ou diversas atitudes que consideramos que ferem o pudor.
O que seria o pedófilo? Um adulto que mantém o funcionamento infantil de sua sexualidade. Ele “brinca” com coisa séria, de uma forma perversa. Continua obtendo prazer através de jogos infantis, que num desenvolvimento esperado da sexualidade geralmente reprimimos. Porém, a complicação é continuar acontecendo isso numa cabeça de adulto com o agravante que sempre vem mesclado com a sedução da criança através do carinho fraternal, que esconde e dissimula o sexual, pois ela não tem consciência de sua sexualidade, apesar de sentir sensações prazerosas. O erótico só existe fora do infantil.
A pedofilia escracha os múltiplos caminhos que pode trilhar a sexualidade humana, o que não nos torna menos responsáveis pelas conseqüências do exercício das diversas formas de obter prazer. Não importa quais patologias ou carências ou traumas podem estar por trás dos atos que tomamos, o fato é que, ao exercê-los, responder por eles diante da sociedade e de si mesmo, é o mínimo que se espera de humanidade, para que consigamos continuar nos chamando de humanos.
Por: Návia T. Pattussi/Psicanalista/naviat@terra.com.br
Fonte: Marcos A. Bedin
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Pedofilia é uma doença terrível e precisa ser tratada. Abraços.
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